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sexta-feira, 6 de abril de 2018

Cotidiano


In the Fields - Julien Dupré (French, 1851 - 1910) The facts about sky blue light, exclusive feature, pages 2,3,6,7,8,14,15.Quando comecei a ler o livro Felicidade Conjugal de Tolstoi tive um lampejo de ideias e felicidade. Logo veio em minha mente a seguinte ideia: preciso compartilhar isso com alguém. E pensando nisso por alguns minutos, minha mente já identificou um candidato perfeito para que eu pudesse compartilhar esses sentimentos.
A narrativa é simples, acontecimentos aparentemente comuns, mas muito bem detalhados. A narrativa é mesmo encantadora pelo seu grau de proximidade que alcança junto ao leitor. Realmente me senti íntimo da história logo nos primeiros parágrafos, fato que me faz não querer largar o livro enquanto não o terminasse.

Mas, a historia parece tão íntima à vida que agora eu não tenho ânimo para indicá-la a ninguém. Para ler esta obra basta olhar com atenção para a própria vida, pois um cadinho dela se encontrar no nosso próprio cotidiano. O cotidiano, ao contrário de que muitos pensam, não é uma rotina enfadonha, mas um mar de riqueza de símbolos e significados. Esta obra me fez olhar, de novo, com outro olhos a minha vida. Longe de ser um consolo, A Felicidade Conjugal me tocou para as coisas próximas e aparentemente insignificantes da vida.

Imagem: Julien Dupré

terça-feira, 3 de abril de 2018

Sonho


             Sonhei que estávamos, eu e minha família, apartando animais brancos e hostis. A dificuldade era imensa. Para piorar não estávamos montados, mas sim a pé; corríamos como podíamos para acompanhar os animais velozes.

              No início, o que fazíamos era correr pra lá e para cá de maneira bem desorganizada. Mas logo começamos a pegar o jeito da coisa. Distribuímos-nos melhor no pasto de modo que não precisássemos nos esforçar muito para conter os animais e direcioná-los para o curral.
Não me lembro se havíamos conseguido cumprir a tarefa de prender os animais no curral, mas me lembro de perguntar a um homem se não tínhamos cavalos. Ele respondeu na maior serenidade que sim.
            Eu retruquei truculento: “então, porque não usamos eles?”
            O homem responde ainda com mais calma: “Porque com o maior esforço pessoal pudemos aprender melhor a reconhecer o valor do outro; por mais lento, pequeno ou fraco que um fosse, precisamos dele para cumprir nossa missão; cada um na máxima força de suas capacidades. Aprendemos que a unidade funciona melhor que a parte e que a união é um resultado natural do trabalho e do movimento. Não observou isso, garoto?”
            Respondi: “não, ora!
            Ele respondeu: “então você estava só apartando animais”. Virou-se olhou para o céu e finalizou: “Eu estava pensando na Unidade e unindo meus familiares”.

sábado, 6 de janeiro de 2018

O Eterno Ciclo da Vida!


Há certos dias em que acordamos nos sentindo muito bem. Tão bem que nos falta palavras adequadas para descrever este estado de espírito. Sentimos alegria, felicidade, júbilo, contentamento, plenitude...
Sentindo assim nos perguntamos: como que mais ninguém a nossa volta não está sentindo isso? Sendo que tudo está tão belo e convidativo para a alegria.
Entretanto o tempo corre constante dando existência a coisas novas, transformando as que já existem e destruindo outras que já é tempo de passarem. Deste modo o dia vai passando e as coisas vão se transformando; a alegria, que no início do dia era tão intensa, agora no meio dia já não é a mesma coisa. Naquelas primeiras horas da alvorada riamos com o canto dos passarinhos, mas agora, no meio do dia, estamos mais sérios e com fome esperando pelo almoço.
Pois é mais ou menos assim que me sinto. Enquanto espero pelo almoço vou pensando na alegria que se transforma no decorrer das horas. Lembro-me do início do dia e me pergunto o porquê estava tão feliz e agora não mais.
E por tanto pensar percebo que não posso manter o mesmo estado de espírito feliz por muito tempo. A verdadeira felicidade acontece de instantes em instantes mais ou menos distantes um do outro. Nesse intervalo entre esses instantes de felicidades temos outras coisas para sentir que são tão importantes quanto à alegria e a felicidade. Precisamos da tristeza, por exemplo, que também acontece de instantes em instantes.
Percebi isso um pouco mais cedo, quando estava trabalhando na roça, preparando a terra para o plantio. Como já disse acordei bem disposto e cheio de energia. Comecei roçando o mato com uma roçadeira motorizada. Ia passando a hélice em tudo, cortando as plantas, destroçando os gafanhotos, cortando as asas das borboletas, picando vários insetos em mil pedaços e acabando com a vida minúscula que se punha em meu caminho.
Senti-me um ceifeiro. E isso me abateu sobremaneira. Minha alegria se transformou em um mix de tristeza, apatia e melancolia.
Enfim o almoço foi servido; arroz, carne, ovos macarrão e feijão. Comi tudo vagarosamente, mas comi.
Enquanto ingeria os alimentos coisas passavam em minha mente: de onde será que vieram essas coisas? Como foi plantado e colhido o arroz e o trigo? Será que usaram muito veneno. Quanta criatura não deve ter morrido?
Almocei ritualisticamente, pois algo instintivo me dizia que deveria me alimentar com uma atitude de cerimônia.
Depois do almoço minha tarefa era continuar roçando e matando os pequenos animais. Mas estava incomodado com a situação e evitei o retorno as minhas obrigações. Andei pelo terreiro procurando outras coisas para fazer. Mas toda pedra que levantava tinha vida debaixo dela, todo tronco que mexia tinha formigas e insetos vivendo dentro dele e em todo lugar que pisava tinha vida que meu peso esmagava.
De súbito comecei a lembrar de quando morava com minha avó. Ele cozinhava no fogão a lenha e eu era quem pegava a lenha. Lembro que via o tição ardendo na fornalha e na outra extremidade da madeira, a que estava fora do fogo, ficara coberta por cupins; todos empilhando e remexendo para não serem queimados vivos. E minha avó pegava uma vassourinha e os varia de vez para a boca da fornalha bem no meio das brasas quentes. Tudo isso para que pudéssemos cozinhar nosso alimento e comer.
- É só para acabar logo com o sofrimento deles. Minha vó me dizia e eu nem ligava. Mas não entendo o porquê estou me lembrando disso tudo.

Ainda andando pelo terreiro vi uma muda de cravo da índia. Não pensei duas vezes e decidi plantá-la em um bom lugar. E mais uma vez algo interno e valioso, como uma voz silenciosa, me falou que deveria fazer aquilo de modo cerimonioso.
A assim fiz. Escolhi bem o local, limpei uma pequena área e furei o buraco. No processo achei uma minhoca e a pus de lado. Besouros e grilos atravessavam o caminho de minha enxada, mas eu salvei alguns. Nisso eu disse quase sem pensar: esse é o meio tributo para com a natureza; um mísero tributo por tudo que ela me dá.
Plantei o cravo com carinho sentindo suas raízes e a terra úmida grudando na mão e entrando debaixo das unhas. Coloquei a minhoca que havia salvado do fio da enxada sob a terra fofa no pé da planta. Sem demora ela entrou na terra desaparecendo por completa.
Levantei-me e comtemplei o que havia feito. Olhei para o céu claro e pensamentos brotaram na minha mente; como sementes que foram regadas pelas primeiras chuvas e iluminadas pelos primeiros raios do sol.
Pensei: tenho de viver de tal maneira que possa ser digno de todos os sacrifícios da natureza para que eu possa comer todos os dias.

Depois disso aquela mesma alegria de manhãzinha retornou a minha alma e coração. Trabalhei o resto do dia com vigor e sensibilidade a toda manifestação da vida. Trabalhei de outro modo, entendi que certas coisas não podem ser evitadas, mas outas temos o dever de evitar. Salvei os que pude e continuei meu trabalho sem culpa e com muita gratidão para com a vida.

Imagem: Autor desconhecido

quinta-feira, 28 de dezembro de 2017

Do pensar por si

Ouvir, ler e ver

Eu não lido bem com línguas estrangeiras. Nem ao menos o básico eu sei, mas amo ouvir as grandes melodias internacionais acompanhando a letra traduzida. É bem comum pessoas ouvirem músicas internacionais e não terem ideia do que elas falam, mas o ritmo, os instrumentos, as vozes e todo o conjunto em harmonia contagiam de tal modo que não importa o que significam; de alguma forma captamos sua beleza. Mas às vezes é bom dedicar um tempinho para investigar do que elas falam.

Recentemente ouve a música “wish you were here” (Eu queria que você estivesse aqui) da banda Pink Floyd.

A letra começa com indagações pertinentes a uma questão em particular: conseguimos distinguir, isto é, diferenciar adequadamente as coisas opostas na vida? Sabemos mesmo o que é real e o que é ilusório? Como diz na música, sabemos distinguir um sorriso de uma máscara?
A música afirma que trocamos um papel figurante na guerra por um papel principal na cela. Preferimos a prisão das formas já estipuladas do que a liberdade de ousar diferente. Mais a frente na canção, ela nos diz que somos almas andando, ano após ano, sempre sobre o mesmo chão.
E após andar muito, o que encontramos, é mais uma pergunta da letra. E ela responde que encontramos os mesmos velhos medos.
Faz-me lembrar de Sêneca, um filósofo estoico da antiguidade que dizia que por mais que o homem o viaje, nunca poderá se livrar dos amargos da vida, pois, seja onde for, o homem é perseguido pelos seus próprios amargores. Podemos ir para o lugar mais belo e calmo do planeta, mas se estivermos caóticos por dentro enxergáramos caos por fora também.
Também me faz lembrar um livro, O Falecido Matia Pascal de Luigi Pirandello, um italiano nascido em 1867. O romance relata a vida de um jovem que se encontra em uma monótona situação, desprezado pela família, com um emprego medíocre e endividado. Mas num golpe de sorte fatura uma bolada em um cassino e é tido como morto por engano. Se aproveitando da situação, muda-se para outro lugar, muda a aparência e de nome e torna-se noutro homem; num mais importante e distinto. Mas a vida antiga o persegue onde quer que ele vá. Andou e fugiu muito, mas mesmo assim o que encontrou foram os mesmos velhos medos.
Não devemos trocar o nosso papel figurante na guerra por um papel principal na cela, sendo que “é de batalhas que se vive a vida”. (Tente outra vez de Raul Seixas)
E como uma coisa leva a outra, esta canção me fez querer ver um filme encantador ligado a ela (Na Natureza Selvagem). Bem, quanto ao filme ainda não tenho muito a dizer.
(...)
Depois de ver ao filme e de ter escrito essas coisas ai em cima, tenho algumas palavras a acrescentar. A felicidade jamais esteve muito longe da vida que tenho como pensei que poderia estar. Na verdade, acredito que a busca de equilíbrio e de harmonia entre as coisas opostas da vida conduz àquilo que muitos filósofos se esforçaram para ter e descrever: a felicidade.
Nietzsche nos sugere que a felicidade não poderia estar noutro lugar senão na afirmação da vida, mas não uma vida que se deseja, mas a vida tal como ela é com seus doces e amargos.


Neste ponto retorno para a música que me pergunta se sei distinguir o paraíso do inferno. O paraíso é o equilíbrio harmônico dos opostos e o inferno é a desarmonia, o desequilíbrio, o caos e os extremismos; desordem externa e internamente.
Agora pretendo ler o livro Felicidade Conjugal de Tolstói, que foi um dos livros citados no filme. Como disse antes, uma coisa leva à outra como se fosse providência divina. Se me mantiver forte no caminho de pequenos sinais da vida, quem sabe um dia, não encontre a sabedoria. (sorrisos)


Imagens:     Chris McCandless (1968 – 1992) em frente ao ‘Magic bus’, sua última foto Luigi Bechi - Duas crianças partilham pão e maçãs 

Do pensar por si
Este artigo se trata de um acompanhamento de leitura e reflexão das obras de Shopenhauer

Geralmente preciso de algo fora para estimular o meu pensamento. Logo, será que não sou eu pensando? Numa tentativa de solucionar essa questão, penso no que Shopenhauer disse: “O pensar deve ser incitado como o fogo pelo vento”.
Pensar deveria ser algo natural assim como respirar, mas pessoas assim são raras. De onde vêm os pensamentos? De toda interação com tudo que nos rodeia. Pois cada fagulha do que experimentamos desperta uma chispa de pensamento na mente. Para ver isso basta parar e comtemplar o desenrolar dos pensamentos.

O pensamento é como uma semente que germina quando semeada em solo fértil. E debaixo da luz, cresce, floresce e gera frutos. Esse processo é natural e autônomo. O que temos de cuidar é apenas do solo fértil que há em nós, que significa cuidar da mente e do espírito. Ter a mente aberta para novas sementes e disposição para cultivá-las, trabalhar todos os dias para remexer a terra (arejar a mente com ideias novas) e podar as ervas daninhas (purificar os maus pensamentos). São algumas práticas que podem incitar os pensamentos.

Shopenhauer nos fala de uma biblioteca pequena e organizada. E o que é uma biblioteca bem organizada? Aquela que contenha alguns livros essenciais para o crescimento individual e singular de cada pessoa. E não um amontoado de livros cuja finalidade não seja outra a não ser acúmulo de bens e de conhecimentos: ambos prejudiciais e sem utilidade, pois carecem de um sentido substantivo. Esse desejo de acumular está mais ligado a debilidades, com a vaidade e o orgulho, do que o desejo de crescer propriamente dito.
Esse desejo de crescer pode ser entendido como a vontade de se desenvolver metafisicamente, de crescer espiritualmente, de desenvolver um potencial que está em latência dentro do íntimo da pessoa.
Ainda nesse tema, Nelson Rodrigues nos diz: “Deve-se ler pouco e reler muito. Uns poucos livros totais, três ou quatro que nos salvam ou que nos perdem. Preciso relê-los, sempre e sempre, com obtusa pertinácia. No entanto o leitor se desgasta, se esvai, em muitos livros mais áridos do que desertos.”
Adquirir conhecimento também á válido, mas constitui em apenas uma etapa de um longo processo de desenvolvimento das potencialidades interiores que falei anteriormente. Shopenhauer nos fala que se pode ter muito conhecimento, mas ele tem pouco valor se não for trabalhado na mente por si mesmo.
Transcrevo aqui uma poesia em prosa do autor Mizach Handres:
“Sou muito grato aos livros que tenho, sobretudo aos que li de verdade. Participaram de minha vida desde cedo como amigos dedicados. Aprendi muito com eles.
Outros livros, além de amigos, foram pai e mãe para mim. Ensinaram-me belas lições. Puxavam-me as orelhas enquanto eu dobrava as deles. Uns me acalentavam e tranquilizavam em momentos de desespero; davam-me bons conselhos. Se não sabia fazer algo vinha logo um a me ensinar. Se não suportava mais sofrer com os amargos da vida, vinha logo outro, sujo e rasgado, a me mostrar que era preciso suportar com força e coragem. Se me perdia de mais nas malhas da ilusão vinha um para me abrir os olhos. Se me deprimia pela verdade nua e crua do mundo, vinha mais um outro e mostrava que não era errado sonhar. Um chegou mesmo a me dizer em particular que a ficção, a estória, o mito e a fantasia tem tanto de verdade quanto o chão em que se pisa, pois mostra mais de nós mesmos que um tratado inteiro de psicologia.
Enfim, ensinaram-me e me ensinam a cada dia o valor do equilíbrio, do bom senso e da harmonia. Agradeço a isso, aos livros e aos seus senhores; mestres escritores que nos legou entidades de sabedoria encarnadas em livros, em obras de literatura.”

Convenhamos, mas para conhecer de verdade precisamos refletir, pensar, analisar, ponderar e trabalhar em cima. Precisamos gastar alguns recursos como tempo e energia. Shopenhauer complementa que um homem só sabe aquilo sobre o que ponderou.
Lembro-me que na escola, desde o primário tínhamos de fazer trabalhos escolares, geralmente eram pesquisas. Poxa! Era uma sábia metodologia se os alunos compreendessem o sentido da palavra trabalho. Bem, se não bastasse apenas os trabalhos de escola, tinha os trabalhos de casa que minha avó e minha mãe passavam: pequenos afazeres domésticos; nada difícil, mais ainda sim fazia com cara feia. Passamos a vida trabalhando, pensando, refletindo, ponderando, analisando, etc. Ou seja, é assim que chegamos a conhecer de verdade, tanto as coisas quanto a nós mesmo. Então da próxima vez que lhe aparecer um trabalho, físico ou mental, procure fazer com vontade, pois é esta a chance de você apoderar daquilo que é seu de verdade.

Ler é diferente de pensar. Isso me faz lembrar novamente de Mizach Handres, que diz: “A qualidade daquilo que escrevo depende em boa parte do estado de ânimo de quem me lê.” Esse pensamento é pertinente à questão, pois Shopenhauer afirma que a leitura força a mente a ter pensamentos que são alheios ao estado e temperamento que possa estar no momento.
Muitas vezes querer ler demais pode sugerir uma tentativa fuga de si mesmo. “Se um homem não quer pensar por si, - nem em si - o plano é pegar um livro toda vez que não tiver nada para fazer”, mais uma vez Shopenhauer nos falando. E ele também nos alerta que pegar um livro somente para afugentar os próprios pensamentos é um pecado. E tem toda a razão, pois assim o livro é só mais uma distração não muito diferente da internet, dos tabletes, dos celulares, dos jogos, da televisão, etc. Nesse sentido o livro é escravizamte e não libertador.
Mas atenção, a leitura não é ruim. É ruim quando substitui os próprios pensamentos. Lembram-se da primeira frase de Shopenhauer citada aqui? “O pensar deve ser incitado como o fogo pelo vento”.
E para ter bons pensamentos que tal procurar por bons ventos, como barcos a vela. Bons ventos nos leva longe, mais rápido e para o destino certo. Maus ventos nos atrasam e nos desviam do bom caminho. Em analogia, podemos pensar assim para com os livros, com as coisas, com pensamentos, com a vida, enfim: aprender a fazer boas escolhas. Ora ou outra podemos pegar um mau vento, mas com o tempo vamos adquirindo experiência, e aprendemos a reconhecer logo o vento que nos desvia do destino. Quando isso acontecer, baixe as velas, fique um pouco a deriva, olhe para a natureza e logo um bom vento vem te acolher novamente.
Os antigos chamam isso de providência. Os contemporâneos chamam de “o encaixar o seu desejo no desejo do mundo.”

Imagem: WILLIAM BOUGUEREAU - A difícil lição



quarta-feira, 27 de dezembro de 2017

Inescrupulosos se dão bem

O mundo repudia os mansos e favorece aos inescrupulosos
Este texto é fruto de minhas reflexões, meramente um reflexo de minhas mais triviais opiniões.

Friedrich Nietzsche foi um homem forte, pelo menos assim dizia quando vivo. Foi um fervoroso crítico dos hipócritas; dos que se diziam possuidores de nobres virtudes, mas que no íntimo não passam de mentirosos mascarados.
Hoje em dia o homem forte pensado por Nietzsche é visto como o homem que não tem compaixão, que não se coloca no lugar do outro para sentir as dores alheias. Para o homem contemporâneo o homem forte é o inescrupuloso.
Vitor Frankl, um psiquiatra judeu que passou pelos campos de concentração nazistas, relatou que as pessoas sensíveis, virtuosas, dotadas de valores e princípios fortes foram as primeiras a sucumbir por não abrir mão destes valores. Acrescenta que quem saiu vivo disso tudo foram os mais inescrupulosos, ou seja, aqueles que tiveram a capacidade de desenvolver uma apatia perante a toda aquela barbárie. Entretanto não temos o direito de julgar ninguém que luta pela própria pele, afinal a apatia é um mecanismo de defesa poderoso ligado ao instinto de sobrevivência.
Em outro livro que trata de assuntos semelhantes, a Pele, de Curzio Malaparte, relata a triste realidade do pós-segunda guerra em que as pessoas são capazes de tudo para salvar a própria pele. Até agora estamos falando de situações limites e acontecimentos extremos que leva a pessoa a desenvolver um grau de apatia. Mas quanto às situações cotidianas mais brandas em que as pessoas passam e não se importam tanto? Nestas pequenas situações o que justifica o abrir mão de valores e princípios superiores?
Perante grandes crises, guerras e desastres são os inescrupulosos que mais se dão bem; são os que têm mais chances de saírem ilesos. Para exemplificar: perante uma guerra o soldado que retornar ao campo de batalha para salvar seus companheiros de guerra, condenados a uma morte certa, terá suas chances de sobreviver reduzidas; o empresário, perante a uma grave crise econômica, que luta para manter os funcionário e pagar todas as suas dívidas sem burlar o sistema, corre sérios riscos de falir.
Não sei, mas tenho a leve impressão de que o mundo não é dos mansos e justos, mas sim dos inescrupulosos e agressivos, pois estes têm mais facilidade de passar por cima de valores humanos para salvar a si mesmos em primeiro lugar. E são esses que se mantêm vivos em tempos de guerra, são esses que mantêm o dinheiro em tempos de crise, até mesmo conquistam grandes fortunas nas crises. São esses que se mantêm no emprego perante injustiças de diferentes naturezas. São esses os homens fortes que Nietzsche se referia?
Acredito que não. Os homens fortes são aqueles que se mantêm firmes em seus valores, virtudes e princípios humanos perante a qualquer situação exterior, mesmo que isso signifique sua própria ruína. Esses são os verdadeiros heróis; aqueles que são capazes de fazer pequenos e grandes sacrifícios, não por eles mesmos, mas pelos demais.
Na atualidade o valor do inescrupuloso que é almejado. Quantos cursos de inteligência emocional têm por aí, não é mesmo? Para o pensamento do homem médio contemporâneo, o homem inescrupuloso que é o modelo ideal, que é o homem bem sucedido na vida... O que venceu.
Nietzsche tem uma frase incrível, que é assim: “Quem tem um porquê suporta quase todo como”. E este porquê de cada um são valores superiores e humanos.

Agora eu digo, olhando de frente para meus contemporâneos, numa atitude de “ressentido” e “sensível”: Quem luta em nome de seu próprio ego suporta fazer quase tudo nesta vida. E é esta a máxima do homem forte, do homem da moda e bem-sucedido.

Imagem: não consegui identificar o autor

sexta-feira, 22 de dezembro de 2017

Do Ser e da Aparência

     Do Ser e da Aparência
     Este artigo se trata de um acompanhamento reflexão de uma palestra de Leandro Karnal.

     O que pode nos fazer feliz? O quê eu não sei, mas Leandro Karnal nos diz em uma palestra que não é o que o mundo diz o que somos que vai nos fazer felizes. Diz ainda que é o que pesamos que poderá nos trazer alguma felicidade. O que construímos mentalmente é que nos faz felizes ou infelizes.
      Lembro-me de outro autor, Vitor Frankl, que fala que o ser humano tem uma única liberdade: que é de escolher como vamos ser afetados pelos acontecimentos que não dependem de nós. Frankl foi prisioneiro dos campos de concentração, e lá, em meio a toda aquela barbárie, ele viu que poderiam tirar tudo dele menos essa liberdade íntima de poder escolher como reagir a todas aquelas coisas.
Então será que é o que pensamos que determina as pegadas que deixaremos no mundo?

     O que pensamos está dentro de nós. E o mundo não olhará para isso. O mundo procura o externo para ver e julgar. Ou seja, o mundo nos mede pelo que parecemos ser. Eu sou um, mas o mundo me olha e me mede pelo que pareço ser. E agora como resolver esse impasse? É só fazer o nosso exterior, nossa aparência, parecer o mais possível com o que pesamos interiormente. A isso podemos chamar de coerência e de integridade.

     A teoria é bem simples, mas na prática... Basta ser o mais coerente possível com o que pensa e com o que faz. Deste modo aquilo que se pensa é refletido naquilo que se faz e o mundo nos medirá pelo que somos de verdade.

     O mundo nos mede pelo que parecemos ser e nós medimos o mundo pelo que ele parece ser. E pior, medimos o mundo comparando ele com outra coisa, geralmente, para piorar as coisas, com a gente mesmo. Para exemplificar: eu olho para o outro e vejo sua aparência, e a comparo com a minha aparência. Isso é um duplo erro, pois a comparação gera ainda mais ilusão. Eu sou alto perante alguém baixo. Só me acho feio porque tem alguém mais anatomicamente harmônico que eu. Com o qual me comparo e me acho feio.

     Leandro Karnal lança um belo exemplo, um ditado português: “o insulto é como um veneno, só funciona se beber”. Quando alguém nos insulta ou nos agride nos podemos escolher beber deste veneno ou não. Se bebermos do veneno significa que nos identificamos com o insulto. E isso não é ruim, pois tá aí a grande oportunidade de identificarmos e vencermos um defeito.
Ele ainda acrescenta que o insulto e a crítica é um reflexo das próprias debilidades de quem as pratica. Mesmo quando estamos certos em corrigir o outro, a crítica é um reflexo de nossas próprias dores. Devemos evitar a crítica, mas se fizermos, devemos olhar para dentro. Porque o primeiro destinatário de nossa critica é a gente mesmo. Posso até estar certo em criticar alguém, mas primeiro de tudo critico a mim mesmo. E tá aí outra grande oportunidade de identificar e corrigir um defeito. Então, insultando ou recebendo insultos podemos conhecer a nós mesmos e evoluirmos como pessoas. Fazendo ou recebendo críticas nos mostra que a chave não está no outro, mas sim dentro de nós mesmos, pois é o que pensamos intimamente é que diz o somos e não nossa aparência que é uma máscara.

Imagen: The Inferno, Canto 29, lines 4-6 (detail) Gustave Doré 1890

sexta-feira, 28 de março de 2014

Crime e Castigo

O Grande golpe de Machado!

           O que poderia eu dizer a respeito de tão formidável obra da Literatura Uuniversal? Logo eu que sou tão novo nestes assuntos. O que posso fazer é narrar a historia de como conheci Fiódor Dostoiévski.


          Em um final de tarde, depois do trabalho, parei em uma banca de jornal e me deparei com dois volumes de capa em tecido vermelho sangue; lembro-me como se fosse hoje, estavam embalados em plástico com uma fita de papel amarelo com os seguintes dizeres: 2 por 1, 14,99 R$. Na época meu salário era pouco, mas não podia perder a promoção, enfiei a mão nos bolsos, contei as moedas e comprei sem ao menos ler o título, mas o que encantou de imediato foi a beleza da edição por um preço tão bom. Sem falar na cor, que cor. Os abri ali mesmo, foleei suas páginas, senti o cheiro e a textura do tecido da capa e comecei a ler: “Crime e Castigo...” e não parei mais até consumir todas as páginas do primeiro volume e em quatro dias já tinha lido toda a obra. Que linda narrativa e que pena que não havia mais. Desde então, a cada livro que pego em minhas mãos, sou dominado por uma expectativa de que ele seja tão bom quanto o outro que lera há tanto tempo...

quarta-feira, 26 de março de 2014

Livro amigo, esquecido

Meu querido amigo,
A quanto tempo não
Vos dedico atenção?
Perdoe-me o meu desleixo,
Não é desculpa; falta-me disposição.
Agora volta-me o vigor
Então foleio, leio e releio
Tuas páginas empoeiradas,
Rasgadas, amassadas e sujas,
E nem por isso menos ricas.
Vamos... Vamos!
Me conte todas as novidades
Mata-me as saudades...

sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

Literatura - Passividade na Rede



Oh! Meus contemporâneos amigos, por que não se interessam mais por uma bela literatura? Será que a linguagem poética está caindo em desuso; a deixaremos morrer assim?
O mundo está cada vez mais prático, mais apressado, mais urgente... e a linguagem acompanha ao mesmo passo frenético. Afinal, tudo está se transformando, ou melhor, se desmaterializando, pois o formato digital é que domina. É nesta realidade que a informação tornou-se descartável; é lida, nem sempre apreendida e descartada como se não fosse mais nada além de um estorvo para coisas novas. Escritores, estamos perdendo espaço e nossa obra está perdendo vida. Os livros estão sendo substituídos pelas tão limitadas frases de efeito ao lado de uma imagem postada nas redes. Não sei dizer se é bom ou ruim, mas as pessoas já não têm mais tempo nem paciência para ler poesias ou intrincados romances, se limitam aos "posts" das redes sociais.
Por esse motivo que esta sendo difícil escrever, e ainda mais complicado publicar literatura na rede.

quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

Zetsuen no Tempest - Tragédia ou Romance?

A história é centrada em Yoshino, um garoto normal que cursa o colegial junto com seu misterioso amigo Mahiro. Mahiro faz um trato com uma feiticeira chamada Hakaze, para caçar os assassinos de seus pais e irmã. Agora Mahiro sumiu, e Hakaze confronta Yoshino. Yoshino acaba envolvido em uma Trama que pode aniquilar com todo o mundo.



Hamlet
"Entre o céu e a terra existe mais coisas que supões a nossa van filosofia..."
Há apenas laços ínfimos entre o viver e o sonhar. por tão trivial que são essas forças perdemos sonhos inteiros simplesmente por medo de tentar.
Assistindo ao anime Zetsuen no Tempest percebi que apenas aqueles que não têm mais nada a perder é que prosseguem pelo seu destino sem se importar com as ilimitadas tramas que pode ocorrer.
Me pergunto: "seria verdade que uma palavra, uma única palavra poderia mudar o mundo? O mundo mundo não sei, mas o destino é afeta não só por uma palavra qualquer mas por toda atitude tomada, seja ela pensada ou impulsiva. Ao longo do anime fui relacionando a trama a vida; de fato, o destino muda constantemente por motivos bobos que passam até mesmo despercebidos, então para que me preocupar com o destino? Para que conter meus atos no presente para manter o futuro mais ou menos constante? Para que essa necessidade louca de ter o controle da vida. Para que, uma vez que não temos controle de nada.
São os fatos mais banais que transforma um belo romance em uma triste Tragédia. Pertencemos ao destino ao mesmo tempo que ele não é nada, pois não existe. 
Coincidências não existem. Coincidências são fatos. Os sinais de coincidências que insistimos em ver em todas as coisas é que não passa de meras ilusões.

segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

Mensagem



É triste quando a mensagem
Não chega ao seu destino,
Ou ela é extraviada no caminho
Ou, simplesmente, o remetente
Não dá a miníma para o que sinto.


Por isso jogo as palavras ao vento
Assim, mesmo se quem eu quero não me escuta,
Encontro sempre ouvintes dedicados...

sexta-feira, 30 de novembro de 2012

Belas Artes

Admiração ............

De: Joandres Soares























..................................Por Isso.

De: Joandres Soares







sexta-feira, 26 de outubro de 2012

O que faço com o que sobra!?


 O que faço com o que sobra!?

A observação leva ao pensamento e a reflexões. Sentado em uma mesa, esperando minha namorada, não pude deixar de notar que algumas pessoas passavam por mim dirigiam o olhar para um canto onde eu não podia ver, atrás das escadas. Fiquei intrigado com aquilo. Primeiro pensei em mim, pois não sabia o “porquê” de estar observando estes detalhes minúsculos e sem importância. Depois pensei no olhar destas pessoas; tinha um certo ar de preocupação, interesse ou pena, mas que logo adquiria um ar de extrema indiferença. Então me lembrei que eu também olhei para aquele canto quando passei e percebi que tivera aquele mesmo olhar de interesse e pena – tratava-se de uma moça que estava chorando; e eu a conhecia. Mas a ignorei completamente. Passei por ela, me sentei na referida mesa e comecei a olhar maquinalmente os olhares das pessoas que passavam.
 Depois que desvendei o motivo dos olhares para aquele canto atraia, travei uma luta comigo mesmo. Fiquei indeciso quanto a ir ou não ir falar com a moça. Acabei indo e descobri que ela estava com uma enxaqueca fortíssima, tão forte que travava os dentes e chorava. O namorado já estava a caminho para buscá-la. Acabado o episódio não me lembrei de mais nada. Fiquei totalmente indiferente a situação – afinal, a ajudei e não quero retribuições, pois não me custou nada a não ser alguns minutos que me sobraram.

E vocês? O que fazem com aquilo que lhes sobram?

quarta-feira, 24 de outubro de 2012

"Metículas"


 Esta combinação de versos loucos é o resultado de dois pensares; meus e de minha namorada, Ana Cláudia. Cada um em uma linha, numa alternância contínua em um só lugar...


“-^_^-” Metículas

Chove chuva em gotículas
movendo sentimentos egoístas
nas finas e puras partículas.

Encontra-se “metículas” ridículas
de pensares dormindo e acordado:
acordo e me encontro suado.

Triste do sonho despertado,
encontrando-me disperso e desorientado
em um mundo encantado: de fábulas.!.

Viagens absurdas e loucas.
Me encontro em uma dupla louca
de vozes soltas e roucas.
Não doentes, mas aflitas
de fantasias delirantes
que voam esvoaçantes
com asas nos pés e voares rasantes.

Enfurece-me tal forma de pensar.
Mas como? São tão vibrantes,
revigorantes; de meus passos errantes.
Ah! que complicação! Só resta pensar.

Ana Cláudia e Joandres Soares

domingo, 21 de outubro de 2012

Passeio


Passeio

Penso, logo existo.
Penso, logo me acalmo.
Penso, logo me pacifico.
Penso, logo evoluo.

Penso individualmente voltado para mim,
Como num espelho mirando-me
Em um espaço de estralas sem fim.
Penso pacientemente, viajo pacientemente;
É mais ou menos assim:

Sem ser seletivo, andando e voando,
Escolho um caminho.
Por ele passo olhando,
Vou indo sonhando e pensando.

O novo me espera e a cada passo
Remexo as pedras
Só para ver o que tem de baixo.
Percorro todos os espaços;
Vejo todas as frestas;
Cheiro todas as flores;
Conheço todas as primaveras...
Sinto os sopros finos do amor
E o vapor gélido das trevas,
Afinal, não descobri de tudo
E pelo caminho ficou muitas pedras,
Intocadas, reservadas no mais profundo.

Mas quando paro de andar
Descubro que fui mais longe
Do que pensei em chegar...
Tudo isso sem sair do lugar;
Apenas colocando a alma para passear.

– Deus! Louvado seja o meu pensar.

sexta-feira, 19 de outubro de 2012

Narciso


Narciso é fruto do deus do rio, Céfiso, com uma ninfa, Liríope. Ao seu nascimento seus pais consultaram o profeta Tirésias, onde tiveram a revelação que Narciso teria vida longa caso não mirasse jamais a própria face. Quando adulto torna-se um belíssimo rapaz. Muitas ninfas se apaixonaram por ele, em especial a ninfa Eco que devotava grande paixão por ele. Eco, inconformada com a indiferença dele afastou-se com amargura para o deserto e lá definhou até restar somente seus suspiros. Nêmesis apiedou-se de Eco e induziu Narciso a mirar-se nas águas de um rio, debruçando-se em suas margens para beber, vê sua face refletida na água, permanece imóvel e contempla entorpecido suas feições até morrer.
O mito pode estar representado a individualidade da pessoa que se conhece em seu íntimo e toma consciência de si próprio. É o olhar voltado para dentro; assistindo a um conflito interno e individual. É uma relação de si para consigo mesmo; onde se enfrenta as peculiaridades dramáticas da mente.
Me faz lembrar que: “ não se conhece alguém sem antes, conhecer a si próprio”. Se quero me fazer conhecido por alguém, tenho de me conhecer também. Ora! O psicologo só pode ajudar e conhecer o paciente estimulando-o a se autodescobrir.
Eu não me conheço tão bem como pensei, e quero que me conheçam melhor. Por isso, nestes tempos, vou estar recluso em mim mesmo; entorpecido e em conflito comigo mesmo. Vou me conhecer para me fazer conhecido.

quinta-feira, 18 de outubro de 2012

Meu pensar

              Meus pensamentos podem se tornar a minha melhor companhia nos momentos de solidão; ou naquelas horas tediosas de pura convenção social. Por pensar que tenho razões por existir. "Penso, logo existo", não é mesmo verdade. Sim, é verdade.

quarta-feira, 10 de outubro de 2012

Viver sonhando de brincar como criança




 Viver sonhando de brincar como criança

Quando era criança, por volta dos seis anos, me perguntaram, a queima roupa, o que eu gostaria de ser quando crescesse. Fiquei intrigado com tal pergunta a ponto de não saber o quê responder, mas compreendia, vagamente, que queria ser “grande”. Fui crescendo com essa pergunta martelando na cabeça, por isso procurei fazer e experimentar diversas coisas para ver o que se enquadraria em meu sonho. Gostava de assistir desenhos animado, vendo a Dragon Ball me decidi a ser lutador: treinava, dava socos e tentava voar, – como levitar no ar me pareceu impossível, optei por ter asas – digam o que quiserem, mas naqueles dias eu fui lutador, da mesma forma que em outros dias eu fui guerreiro com uma espada de madeira e policial com uma arma de brinquedo. Fui herói com uma toalha vermelha. Fui jogador de futebol e cantor famoso. Já morei em uma caverna e também no fundo do mar; já fui para o espaço e tive muitos amigos por lá. E também fui curador de um museu com os pertences de minha avó.
Cresci mais um pouco, e na adolescência fui galã de cinema. Fui rebelde andando de bicicleta e defendendo os meus direitos e ideais; fui revolucionário nesta época. Fui leitor de muitas bibliotecas, fui autor e fui poeta. Li e reli várias histórias, conheci o mundo por meio das novelas, crônicas e filosofias. Fui um paradoxo de descobertas. Bebi cerveja e experimentei cigarro. Tive amores, sonhos e pesadelos. Fui hiperativo; fui doente por hipertiroidismo. Fui inconsequente e autodestrutivo – era um romântico... E também fui Deus, criei e recriei meu mundo; fui Cronos o senhor de meu tempo e fui Morfeu concretizando os meus sonhos.
Continuei crescendo e amadurecendo. Hoje sou homem com amnésia: não me lembro mais daquela simplicidade de viver como criança. Entretanto, sem saber, realizei o meu primeiro sonho; o de ser grande. Às vezes me choco com a realidade do mundo, fico depressivo, indignado; não imagino futuro algum. É nesses momentos que olho para traz e vejo que fiz de tudo, realizei minhas vontades e ainda tenho sonhos por realizar. Levanto a cabeça e olho para frente e me lembro como era ser criança e procuro fazer o novo sem medo de errar, adquiro experiências, digo sim para as oportunidades e vou me tornando ainda maior... e mais feliz.